
Bate-papo resumo sobre o conteúdo da matéria
O futuro de Jurerê está sendo traçado com uma visão ousada, inovadora e sustentável. No 23º episódio do podcast Jurerê+ — uma iniciativa da Viva Jurerê, apresentado por Norton Willrich, sócio fundador da imobiliária — o foco foi justamente esse tema essencial. O episódio contou com a participação especial de Lorena, arquiteta e urbanista que lidera o departamento de Arquitetura e Urbanismo do Grupo Habitasul, empresa responsável pelo desenvolvimento de Jurerê Internacional. A conversa trouxe insights valiosos sobre os rumos do bairro e os planos que estão moldando seu futuro.
Com uma sólida formação em arquitetura e urbanismo, especialização e mestrado em desenvolvimento sustentável na Argentina, e vasta experiência em planejamento urbano, Lorena trouxe insights valiosos sobre a evolução histórica e as projeções para o bairro. Ela destacou a influência de sua escola na Argentina e a pegada europeia de arquitetos com quem trabalhou, moldando seu conceito de sustentabilidade e planejamento.
Da Visão Pioneira à Gestão Contínua
Jurerê Internacional nasceu de um plano específico de urbanização na década de 80, concebido com zoneamento setorizado: um eixo comercial e de usos mistos (o Open Shopping), uma área turística (onde está o Il Campanario) e bolsões residenciais unifamiliares. Inovações como o Open Shopping, uma área privada de uso público, e o eio dos namorados na orla como um parque linear de caminhabilidade já ditavam a tônica de fluidez pública e caminhabilidade.
Em 2005, a Habitasul buscou a expertise da fundação onde Lorena trabalhava para renovar o masterplan e pensar nas etapas futuras, especialmente a gleba não implantada, lindeira à Estação Ecológica de Carejosa (EEC), o que exige diálogo e anuência da estação.
Lorena vê seu propósito na Habitasul em demonstrar que o crescimento populacional e urbano é possível preservando a natureza, e que essa preservação deve ser planejada. O grande desafio é sempre encontrar o equilíbrio entre o ambiental e o urbano.
Jurerê se tornou um ícone de urbanismo sustentável graças ao seu planejamento estratégico. A Habitasul atuou como master developer, não apenas loteando e vendendo, mas realizando o planejamento e a gestão contínua do bairro, criando centralidades como o Open Shopping e transformando-o em um placemaking (lugar de convívio). A relação com a natureza foi priorizada, deixando áreas de maior restrição ambiental para etapas futuras. O foco inicial na orla, com ruas perpendiculares ao mar e os diretos aos beach clubs, posicionou Jurerê como destino turístico de valor. A preservação das unidades unifamiliares na orla, sem verticalização como em outros balneários, garantiu a calmaria e a qualidade de vida, mesmo com a atividade turística intensa. Jurerê, que antes era local de acampamento, ganhou glamour e qualidade de vida com o planejamento e restrições urbanísticas desde o início.
Restrições Urbanísticas: Um Legado e Seus Desafios
As regras de construção em Jurerê, estabelecidas em 1978, foram registradas na matrícula dos imóveis. Algumas são mais restritivas que o plano diretor municipal, como a taxa de ocupação menor (35% contra 45%), resultando em casas mais soltas nos lotes, melhor insolação e ventilação. A proibição de muros na frente e do terceiro pavimento são outras normas marcantes.
Lorena reconhece a existência de irregularidades, estimando que cerca de 30% das casas tenham algum tipo de fechamento frontal (muitas vezes por segurança ou pets), ou desrespeitem o limite de pavimentos e o afastamento das divisas. A postura atual da Habitasul é buscar o consenso e a mediação, mostrando que a irregularidade desvaloriza o próprio imóvel e o bairro. Há fiscalização e colaboração com a equipe de segurança (SA) e a Associação dos Moradores. Para prédios, a Habitasul negocia conceitos como certificação, qualidade arquitetônica e limites de altura diretamente com as incorporadoras.
O Novo Masterplan e as Regras Revolucionárias
O projeto “Jurerê em 2050”, que circulou anos atrás, propunha uma ocupação menor da área total com maior volumetria (até 20 pavimentos), mas o cenário mudou com as alterações no plano diretor municipal em 2014 (definindo a área futura como AUE – Área de Urbanização Especial) e 2023 (exigindo um Plano Específico de Urbanização – PE para essa área).
O novo PE impõe regras consideradas revolucionárias: apenas 45% da área total para urbanizar poderá ser ocupada, destinando 55% para preservação ambiental e agrícola. Um grande desafio é a exigência de 15% das unidades geradas serem destinadas à habitação social (5% para a prefeitura e o restante para financiamento).
Diante da alta valorização imobiliária, a Habitasul estuda modelos (incluindo visitas a Viena e Amsterdam) e pesquisa o perfil das pessoas que trabalham no bairro (até 10 salários mínimos) que deveriam ter a possibilidade de morar ali. O objetivo é integrar faixas sociais através de um plano que prevê escola pública, espaços públicos inclusivos e saúde.
O projeto atual é fruto de um estudo intenso iniciado em 2022 com 16 empresas e especialistas, detalhando vegetação, sistema hídrico e resiliência de áreas úmidas. Masterplans horizontal e vertical calculam a capacidade populacional, com meta de alcançar 40.000 pessoas com a infraestrutura prevista. Novas tecnologias para água e esgoto estão sendo estudadas para otimizar espaço e manter o equilíbrio hídrico, essencial para o abastecimento.
O novo conceito urbanístico se afasta do parcelamento ortogonal, propondo clusters que respeitam a topografia e os cursos d’água. É um urbanismo ecológico, inspirado na natureza local. A verticalização terá variabilidade tipológica (4, 5, 6, 8, 12 pavimentos), escalonando as construções para garantir vistas para o mar e o manguezal, agregando valor e criando uma ambiência diferenciada.
Parque Central e Conexão com a Natureza
Fundamental para conectar as pessoas à natureza é o Parque Central, em implantação. Com 150.000 m², o parque foi projetado ecologicamente para ser um lugar onde as pessoas possam viver em meio à natureza. Permitirá a observação da fauna e flora (equipamentos para observação de pássaros e jacarés), sendo um equipamento de lazer com formação ecológica. A Habitasul busca parcerias com o município para garantir sua sustentabilidade e segurança, considerando até operações gastronômicas, misturando o conceito de parque com open shopping.
Infraestrutura, Serviços e Revitalização
A infraestrutura atual a até 27.000 pessoas, com previsão de ampliação para as novas etapas, visando os 40.000 habitantes projetados. Isso inclui áreas institucionais para escolas e saúde. A vocação de Jurerê para saúde e eventos esportivos será valorizada.
A orla, expandida pelo alargamento da praia, também está em foco. O movimento Jurerê Mais nasceu, em parte, da preocupação com a segurança e infraestrutura para a maior quantidade de pessoas na praia alargada. O projeto Parque da Orla visa revitalizar o eio dos namorados com equipamentos, mobiliário, iluminação e, crucialmente, mais banheiros públicos.
Conectando os “Lugares de Lugares”
Um desafio pessoal para Lorena é a falta de conexão entre as diversas áreas de Jurerê. O bairro é percebido como “um lugar de lugares”, onde visitantes se perdem e não am facilmente praças e áreas de lazer. A meta é criar um “mapa” de navegação, promovendo um senso de comunidade. O alargamento da praia é visto como um o simbólico nessa conexão, unindo Jurerê Internacional e Tradicional. Iniciativas como o movimento Jurerê Mais e a criação de um banco de projetos da comunidade buscam unir as “tribos” e revitalizar áreas existentes, como as alamedas e praças, além de trabalhar em problemas de drenagem.
Visão de Futuro: O “Bem Viver” em Jurerê
A visão do Grupo Habitasul é que Jurerê seja o “melhor lugar”, promovendo encontros e o “bem viver”. O objetivo é criar uma centralidade que permita às pessoas viverem mais no bairro, diminuindo o deslocamento. Jurerê será um lugar de primeira moradia com infraestrutura completa, contribuindo para a dinâmica urbana de Florianópolis, e não apenas um destino turístico.
O Grupo Habitasul, como master developer, reafirma seu compromisso com o desenvolvimento contínuo e estruturado, buscando os melhores profissionais e dialogando com a comunidade e o poder público. O plano específico em desenvolvimento é um marco legal que, utilizando os instrumentos do Estatuto da Cidade, permitirá um ordenamento territorial detalhado com programas e projetos a serem executados nas próximas décadas.
Para se aprofundar nas discussões sobre o futuro de Jurerê, confira o episódio completo do podcast “Jurerê Mais” no canal do YouTube “Viva Jurerê”.
1. Qual a principal mudança no planejamento de Jurerê Internacional ao longo do tempo e qual o conceito que guia o desenvolvimento futuro do bairro?
O planejamento inicial de Jurerê Internacional na década de 80 era muito setorizado, focado em zonas residenciais, comerciais (como o Open Shopping, pioneiro em fachada ativa e fruição pública) e turísticas (próximo ao Il Campanario), com as casas unifamiliares se concentrando em “bolsões”. O desenvolvimento futuro, a partir do masterplan de 2050 e impulsionado pelas alterações do plano diretor, migra para um conceito de “urbanismo ecológico”. Inspirado pela natureza local, esse novo planejamento busca equilibrar o crescimento populacional e urbano com a preservação ambiental, focando na resiliência do lugar, no equilíbrio hídrico e em tecnologias que minimizem o impacto, como o tratamento completo de água e esgoto e a infiltração.
2. Qual o papel da Habitasul no desenvolvimento de Jurerê Internacional e qual o diferencial em relação a outros loteamentos?
A Habitasul atua como “master developer” em Jurerê Internacional. Diferente de loteadores que simplesmente dividem e vendem os lotes, a Habitasul fez o planejamento e continua gerindo o desenvolvimento do bairro, etapa por etapa. Isso incluiu a criação de centralidades como o Open Shopping, a atração de empreendedores com foco em qualidade e a gestão contínua do espaço, transformando-o em um “placemaking” que fomenta cultura e turismo. Essa visão estratégica, incluindo o cuidado com as áreas naturais e a atuação contínua na gestão, é apontada como um dos grandes diferenciais de Jurerê.
3. Como as restrições urbanísticas influenciaram o desenvolvimento de Jurerê Internacional e quais os desafios enfrentados na sua aplicação?
Desde o início, Jurerê teve regras de construção mais rigorosas do que as do plano diretor da cidade, como uma taxa de ocupação menor (35% versus 45% do plano diretor), a exigência de ausência de muros e a proibição do terceiro pavimento. Essas regras foram registradas na matrícula dos lotes, garantindo uma qualidade ambiental superior e maior insolação/ventilação para as casas. O principal desafio é o descumprimento dessas regras por alguns proprietários, o que leva a irregularidades como fechamentos frontais (muitas vezes por questões de segurança ou para pets) e a construção de terceiros pavimentos ou edículas encostadas nos limites dos lotes. A Habitasul adota uma política de mediação de conflitos e conscientização, buscando reverter as irregularidades sem a necessidade de processos judiciais.
4. Qual a previsão de crescimento populacional para Jurerê Internacional e como a infraestrutura está sendo planejada para atender essa demanda?
A previsão é que a população de Jurerê Internacional possa chegar a 40.000 pessoas no plano final. A infraestrutura atual, especialmente as estações de tratamento de água e esgoto, tem capacidade limitada com base na previsão de moradias unifamiliares. Para atender ao crescimento populacional projetado, que inclui a expansão para novas etapas e possivelmente mais empreendimentos multifamiliares, estão previstas ampliações na infraestrutura existente. Além disso, a Habitasul está estudando novas tecnologias para o tratamento e reuso da água, buscando alternativas que exijam menos área de infiltração e espaço de tratamento.
5. Como o novo plano diretor de Florianópolis afetou o futuro desenvolvimento das áreas ainda não implantadas em Jurerê Internacional?
O plano diretor de 2014 classificou uma grande área não implantada como Zona de Urbanização Especial (AUE). A alteração do plano diretor em 2023 estabeleceu que o desenvolvimento dessa AUE exige um Plano Específico de Urbanização (PEU), que funciona como um plano diretor detalhado para a região. Esse PEU trouxe regras revolucionárias, como a exigência de destinar 15% das unidades geradas para habitação social (incluindo 5% para a prefeitura), e limita a ocupação da área para urbanização em 45%, com 55% sendo preservado para fins ambientais e agrícolas. Isso levou a Habitasul a reformular o projeto para essas áreas, pensando em um masterplan horizontal e vertical que acomode essas novas regras e desafios.
6. Qual a importância da habitação social no planejamento futuro de Jurerê Internacional e como a Habitasul está abordando essa questão?
A habitação social é vista como um desafio e uma necessidade essencial para o futuro de Jurerê. Com a valorização imobiliária crescente, muitos profissionais que trabalham no bairro não conseguem morar nele, resultando em deslocamentos pendulares. O novo plano diretor exige a entrega de 15% das unidades para habitação social, com faixas de renda que vão desde o salário mínimo até 10 salários mínimos. A Habitasul está realizando estudos e buscando referências internacionais (como em Viena e Amsterdã) para criar um plano abrangente para a habitação social, que inclua a definição das áreas, o modelo de gestão e a previsão de serviços e equipamentos públicos (escolas, saúde, espaços de lazer) que atendam a todas as faixas sociais que irão residir no bairro.
7. Quais os principais projetos em andamento ou previstos para revitalizar e aprimorar a infraestrutura existente em Jurerê Internacional?
Diversos projetos estão em andamento para aprimorar o que já está implantado em Jurerê. O Parque Central, com 150.000 m², está sendo desenvolvido com foco na educação ecológica e na conexão das pessoas com a natureza. Há planos para torná-lo mais urbano com equipamentos e possíveis operações gastronômicas para sustentabilidade. O eio dos Namorados (na orla) terá revitalização com novos equipamentos, mobiliário, iluminação e banheiros públicos. A continuação do Open Shopping, em parceria com a UNIC, está prevista para começar nos próximos anos (2026/2027), com um conceito aberto e coberto e fachada ativa. Também há estudos para melhorar a drenagem do bairro e um projeto com a empresa Arborã para substituir árvores exóticas por nativas e aprimorar o paisagismo das ruas e parques.
8. Como a Habitasul e a comunidade de Jurerê estão trabalhando para promover a integração do bairro e criar um senso de comunidade?
A Habitasul e a comunidade, através do movimento Jurerê Mais, estão trabalhando para unificar o bairro, superando a distinção entre Jurerê Internacional e Tradicional. Acredita-se que a recente obra de alargamento da praia contribuiu para essa unificação, conectando a orla e oferecendo um mesmo padrão de qualidade ao longo de toda a extensão. Há um comitê trabalhando em um banco de projetos comunitários para a gestão da orla, o Parque Central, as alamedas e a drenagem. O objetivo é criar um senso de pertencimento e fazer com que as pessoas enxerguem Jurerê como uma comunidade, promovendo encontros e um “bem viver” através de espaços públicos de qualidade e um ambiente que incentive a interação.